terça-feira, 9 de maio de 2006

Museu do Vinho Bairrada apresenta novas exposições temporárias


In vino veritas – O Vinho na Grécia Antiga
(José Ribeiro Ferreira e Albino Urbano)

Vasos gregos com mais de 2000 anos de existência, Vídeo e fotografia. Esta exposição é resultado de todo um trabalho apaixonado e exaustivo, de pesquisa e de grande rigor científico, dinamizado e co-organizado por José Ribeiro Ferreira, Professor do Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade Coimbra e por Albino Urbano, em colaboração com o Serviço Educativo do Museu. O espaço temporal entre as últimas exposições de carácter temporário e esta agora apresentada, permitiu-nos desenvolver todo um conjunto de estudos e de estratégias de investigação, que consequentemente nos possibilitaram mostrar agora publicamente este espólio do período Grego Antigo, de extraordinária beleza estético-artística e de enorme raridade.

Este espólio com mais de 2.500 anos de existência da colecção particular do Dr. António de Miranda, reporta o visitante para um período civilizacional em que o artista contemplava a natureza e se empolgava pela vida, exprimindo as suas manifestações através da Arte. Busca-se a perfeição constantemente, numa arte de elaboração intelectual, onde se funde o ritmo, o equilíbrio e a harmonia. Nos vasos gregos/arte cerâmica era onde a pintura da época se manifestava de forma sublime. Neles se manifestava a consonância do desenho, da cor e do espaço ornamental ocupado. Não esquecendo a função didáctica da exposição e assumindo uma preocupação nitidamente pedagógica, Albino Urbano (co-autor da exposição) concebeu ainda, uma apresentação multimédia, na qual se descreve e caracteriza tipologicamente os vasos gregos mais comuns. Aqui a Arte com paixão, funde-se à Ciência e à Pedagogia.

Vinoscópio – (Jorge Rino)
Fotografias ao Microscópio sobre a Videira, O vinho e os seus correlativos e arte Vídeo com Instalação
Esta é sem dúvida uma exposição de carácter original, relativamente ao tema que propõe e relativamente ao formato expositivo. Uma exposição de fotografia de microscopia e de arte-vídeo, totalmente relacionada com o vinho, com a videira e com os seus correlativos. Aqui realça-se o carácter pictórico e cromático natural, que os nossos olhos a vista desarmada não descortinam mas que a tecnologia de ponta e os microscópios desvendam. Prosseguindo objectivos estético-artísticos, procura-se quebrar o distanciamento e as barreiras entre espectador/visitante e a situação. Procura-se uma multi-sensorialidade com uma multiplicidade de meios expressivos, como a fotografia e os equipamentos multimédia.

O efeito de estupefacção perante a espectacularidade da imagem é imediato e transporta-nos para patamares reflexivos que a transfiguração do espaço nos interpela. Jorge Rino que durante anos leccionou na Universidade de Aveiro, e que tem vindo a desenvolver este trabalho meticuloso de microfotografia, apresenta agora o “vinoscópio”. Este resultado foi facilitado pela concepção particularmente bem adaptada a este tipo de fotografia do microscópio Leica MDDB utilizado.

A existência de vários prismas DIC de condensador intermutáveis e montados num tambor permite não só a sua descentragem, obtendo-se assim feixes luminosos oblíquos, como também permite facilmente a sua conjugação com os prismas DIC de objectiva obtendo-se efeitos cromáticos verdadeiramente surpreendentes.

Visão de um milésimo de segundo – (Nelson Gomes)
Exposição de pintura contemporânea e Arte-Vídeo
A expressão artística é um rasgão que se abre para uma realidade imaginada. Transcende a própria condição humana. Fruto de um conjunto de factores intimamente relacionados com os processos de captação de realidades, essa realidade é, por vezes, impenetrável ao entendimento daquele que observa. A função sensorial pela qual os olhos nos põem em contacto com o mundo é tantas vezes menosprezada pelo tempo que não existe, porque se escapa ao nosso controlo. Porque esta função sensorial – a visão – não evolui até à experiência da percepção.
Ver o que há para ver; percepcionar; destruir o que se viu e percepcionou; reconstruir uma nova visão da realidade.

Este trabalho é, por isso, uma tentativa de interacção com o processo de visão do fruidor. Estas “visões” são aquilo que é retido pelo primeiro olhar. Ou aquilo que é fútil ao olhar. Depende do ponto de vista. É apenas uma percepção, uma representação da apresentação.

Os olhos abertos recebem a luz e, nela, todas as realidades visíveis. Instantaneamente o cérebro interpreta a forma e tudo o que a ela diz respeito. Experimente-se inverter esta lógica do processo da visão: e se, no milésimo de segundo, em que os olhos se encontram fechados se desse a captação do essencial? Porque neste lacónico instante está o início da memória visual que todos temos das realidades. E este instante constitui a pedra basilar à função sensorial da visão porque se metamorfoseia na percepção elementar que todos temos dessas realidades. Desta ideia base surgiu o início de um processo de pesquisa pictórica para reduzir o que se observa e frui-se ao essencial, para captar aquilo que os últimos raios de luz deixam gravado na retina mesmo antes das pálpebras se fecharem, fornecendo-me a visão do imprescindível… até se voltarem a abrir. Nas palavras de Auguste Rodin, “a sombra e a luz são como uma língua com que se expressa tudo.”

A tentativa é sintetizar o mais possível esse processo, complexo por si e cheio de observações quase sempre desprovidas do essencial. Registar – de uma forma muito pessoal – a visão momentânea da imagem.

Este trabalho tenta descaracterizar as realidades comuns e percepcioná-las com destrezas visuais para além das retidas no espaço e na luz, como a forma e a cor (ou até a ausência destas). É a tentativa de mostrar aquilo que o milésimo de segundo capta. Despojar a forma de quase toda a sua essência – melhor ainda, trabalhar a forma como se não fosse necessário todo o conjunto de elementos visuais que a constituem. Em súmula, é uma ocultação do visível!

Se numas ocasiões há a tentativa de encontrar essa visão do imprescindível, a visão que se encontra no milésimo de segundo, como se o fechar dos olhos fosse como o fechar de um obturador, e nesse instante acontecesse a verdadeira compreensão da forma, outras há, que o mais importante é explorar o próprio processo da pintura no seu âmago mais puro e intrínseco. Aí, a visão é uma ferramenta para orientar a construção de uma composição, sem a preocupação de orientar essa criação para um movimento artístico ou “ismo” classificativo.

No Museu do Vinho Bairrada, procura-se diariamente, contribuir para a formação plena dos cidadãos e garantir uma relação cultural activa com todos aqueles que o visitam. Constituir um testemunho válido e importante da história Vitivinícola Portuguesa, divulgando-a por todo o mundo de forma activa.

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